segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Uma viagem extraordinária pelo país dos incas – 1ª Parte

Minha viagem ao Peru começou há exatos 16 anos. Com 13, eu era a adolescente mais abelhuda da face da terra. Pelo menos essa era a opinião da minha mãe. Também aos 13, entre outras peripécias, tramei escondido um intercâmbio para a África do Sul, me matriculei numa escola de teatro, escrevi um livro, plantei um pé de cebolinha e outro de alecrim e, finalmente, fiz um roteiro rumo a Machu Picchu com direito, evidentemente, ao Trem da Morte.
 
Para o meu total desespero, nada disso vingou, com exceção dos pés de cebolinha e alecrim que cresceram, reproduziram e morreram. Tristezas e muitas risadas à parte, Machu Picchu nunca saiu dos sonhos (o Trem da Morte, sim) e lá fui eu, em novembro do ano passado, rumo a uma das viagens mais incríveis e aguardadas de toda a minha vida.
 
Em Lima, ficamos por três dias. Foi razoavelmente tranquilo encontrar encantos na capital peruana, sobretudo, porque eu não tinha a menor expectativa de aterrissar numa cidade que para mim ficasse marcada pela beleza. Quer dizer, saí do Brasil, sim, com duas grandes expectativas: morrer de amores por Machu Picchu e comer muito e divinamente bem. Dito e feito. Com expectativas superadas e memórias que ganharam o direito de caminhar comigo até o fim, vamos a alguns relatos que talvez faça você (re)considerar a possibilidade de uma visita ao país dos incas na primeira oportunidade.
 
Lima é muito mais estranha do que você possa imaginar. Não chove forte na cidade há 41 anos – no máximo uma garoa no inverno para lembrar que você não está em outro planeta. Por isso, não há calhas nem bueiros. Nublada, quase sempre nublada, é praticamente impossível acreditar que você possa dispensar o guarda-chuva despreocupadamente. Segundo a Susie, guia simpática que nos recebeu no aeroporto, isso acontece porque existe uma corrente marítima que impede que as nuvens cheguem até Lima.
 
 
A névoa que encobre a cidade só se dissipa quando o sol está alto. Não é sempre. Lima tem as águas mais frias do Pacífico e é mais cinza e marrom do que exatamente colorida. Tem mais cactos do que flores e buzinas numa quantidade tão desesperadora que você passa a prometer evolução imediata no seu trânsito de cada dia.

Se tudo isso fez você desistir de visitar Lima, eu lamento. Não se engane pela primeira impressão. A cidade cinza tem também uma das temperaturas mais agradáveis durante o ano – quase sempre na casa dos 20 graus. Moderna, limpa, segura e com moradores absolutamente amáveis. É de lá um dos centros históricos mais charmosos da América do Sul e um dos museus mais atraentes também, o Larco. Se as ruas parecem monocromáticas demais, o artesanato do país cuida de empolgar as pupilas com uma fartura de cores, no mínimo, impressionante. É o mais bonito de todos que já vi.

 
Se nada disso foi suficiente para te levar até Lima, duvido que assim permaneça se eu disser que a cidade é considerada a capital gastronômica da América do Sul. Se você é da turma que dispensa qualquer contagem de calorias assim que tranca o cadeado da última mala, Lima é o lugar.
 
A riqueza gastronômica não se limita a restaurantes sofisticados. Se você não padecer de frescura crônica, não deixe de experimentar os choclos, espécie de milhos gigantes, vendidos em barraquinhas em vários cantos da cidade. No Bar Cordano, Cantina do Lucas para os boêmios de lá, peça o lomo saltado, iscas de carne à moda chinesa com batatas (dizem que há mais de três mil tipos delas no Peru) e a base de ají amarillo, a pimenta mais utilizada pelos peruanos. Para acompanhar, uma Cusqueña bem gelada, a cerveja mais popular, e não menos saborosa do país. Se ao final, exagero for seu sobrenome, caminhe poucos metros até a Casa de Literatura Peruana e por lá (o pátio externo é muito agradável) fique até der vontade de comer de novo.
 
 
Nossa rotina em Lima foi mais ou menos essa. Pausa: fui com meu namorado, que entende de cozinha, garfo e senso de humor. Numa roupagem bem mais moderna de Comer, Rezar, Amar, lá estava eu viajando pelos sabores de uma cidade – só que bem resolvidíssima no amor. A nouvelle cuisine peruana, uma combinação de receitas tradicionais com inovações, é extraordinária, mas fiquei especialmente encantada pelos pratos mais simples, que respeitam os ingredientes e os deixam brilhar sozinhos.


O ceviche, por exemplo­, nada mais é do que um filé de peixe fresco, cozido apenas no limão, com cebola, pimentões e coentro. É de comer de joelhos o ceviche do Astrid & Gastón, restaurante de Gastón Acurio, que além de chef badalado internacionalmente, tem se mostrado um grande agente de práticas sustentáveis com projetos com pequenos agricultores e comunidades pobres de Lima. Por lá, há um sentimento de que os peruanos nasceram para a cozinha. Eu não duvido.

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Onde ficar:

Doubletree El Pardo Hotel – Independencia, 141, Miraflores

 
Onde comer:

Astrid & Gastón – Calle Cantuarias, 175, Miraflores
Central – Calle Santa Isabel, 376, Miraflores
Fiesta Chiclayo Gourmet Av. Reducto, 1278, Miraflores
La Rosa Náutica Espigón 4, Circuito de Playas, Miraflores
Rafael Osterling  San Martín, 300, Miraflores
Restaurante e Bar Cordano – Esquina Jr. Carabaya y Jr. Ancash, 202, Lima



Renata Gonçalves

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